Tonho de Zé de Bindó queria comprar uma caminhonete de segunda mão, mas em boas condições. Era para entregar ao capataz da fazenda Várzea do Gama, João Perninha, para a lida do dia a dia, transportando arame farpado, ração, produtos da terra e até pequenos animais, como cabritos ou galinhas, que tudo isso havia de fartura. Uma caminhonete das menores, não daquelas bonitonas, de gente com os bolsos transbordando de dinheiro, como a dele mesmo, embora houvesse caminhonetes bem mais bonitas e bem mais caras do que a sua.
Andou daqui e dali, correu trechos em vendedores de carros usados, porém só achou preço alto e mercadoria não convincente. Apelou para um compadre, cujo cunhado comprava e vendia carros usados, sem ter firma estabelecida, comprando e vendendo somente na pipoca, em dinheiro vivo, para não pagar tributos. Nada de cartão, transferência ou pix. Sim, ele tinha algumas caminhonetes. Na verdade, tinha três. Uma deveria ir para o ferro velho. Era uma desgraça, troncha, empenada e fumacenta. A segunda, até que dava para se olhar bem. Cor de chumbo. Bem aprumada. Marca boa no mercado, de boa revenda. Preço lá em cima. “Hum-hum”! Resmungou Tonho de Zé de Bindó, de si para si mesmo. Já a terceira caminhonete, era luxuosa demais. Tinha sido de um desembargador fazendeiro, trocada com menos de dois anos de uso. Quem podia, podia! Nada acertado com o cunhado do seu compadre.
“Sabe, João Perninha, tenho procurado um trem para lhe botar na mão, mas, até agora, não achei nada de valimento, na medida para você usar. Tô procurando”. E assim Tonho de Zé de Bindó continuou a procurar a caminhonete que lhe conviesse.
Dias daqueles, na capital, no rumo da praia dos Coqueiros, eis que o patrão de João Perninha deu de cara com uma caminhonete do tipo e jeito que ele queria. Ia à sua frente, guiada, pelo que ele podia ver, por um sujeito de cabelos grisalhos, que seguia com o braço esquerdo para fora da porta, com um cigarro aceso, a brasa avivada pelo vento. Aparentemente, a caminhonete de cor verde-escuro estaria em bom estado de conservação.
Tonho de Zé de Bindó puxou o carro um pouco para a esquerda, a fim de melhor aferir a condição da caminhonete. Os pneus pareciam em bom estado. A pintura sem manchas ou riscos, ao menos do lado que ele podia ver. No vidro traseiro da cabine, um cartaz em letras graúdas: V E N D O. Não havia, contudo, o telefone para comunicação. “Diacho, como é que bota um aviso desse, V E N D O, e não bota o telefone para contato? Sujeito mais demente”!
Na via, pouco movimento. Tonho de Zé de Bindó emparelhou um veículo com o outro. Buzinou. Fez sinal de parada, apontando para o acostamento. O condutor da caminhonete verde-escuro em aparente boa condição de uso, acelerou um pouco e buscou o acostamento à direita. Tonho parou atrás. Desceu do carro. Examinou a caminhonete. “Esta, sim, vai dar rolo”. Achegou-se ao condutor de cabelos grisalhos. “Bom dia, amigo”! A resposta: “Bom dia. Em que lhe posso servir”?
A negociação iria começar. Como era de costume, Tonho, maneiroso, de voz mansa, voz de quem sabia comprar, pechinchando na maciota, não fez elogio ao veículo, limitando-se a olhar bem para o seu interior. Então, perguntou: “Qual o ano da caminhonete”? O condutor respondeu: “Dois mil e vinte”. Tonho balançou a cabeça, positivamente. “E quanto o amigo está pedindo por ela”? Inesperada foi a nova resposta: “Pedindo nada. Não está à venda”. O patrão de João Perninha franziu a testa e disse: “E aquele cartaz ali, dizendo V E N D O”?
Naquele instante, uma nuvem passageira deu um banho em Tonho de Zé de Bindó, ao passo que o condutor da caminhonete informou: “Eu comprei esta bichinha há duas semanas, e esqueci de tirar o cartaz”. Molhado, Tonho deu um pinote, como um poldro xucro: “Que peste, homem! Perdi meu tempo e ainda tomei um banho. Vai-te embora, fio do canço”!